O IMPACTO DO COVID19 NO TESTE DE RECUPERABILIDADE SOBRE O ATIVO IMOBILIZADO

Escrito por Glauco Oda em 3 de abril de 2020.

Na capa do jornal Valor Econômico de hoje 03 de abril de 2020, tem a seguinte manchete “Reavaliação dos ativos trará forte impacto no balanço das empresas”, chamando a atenção para a matéria dos efeitos do teste de recuperabilidade (Impairment) nas demonstrações contábeis.

O QUE É O TESTE DE RECUPERABILIDADE (IMPAIRMENT)?

A Redução do Valor Recuperável dos Ativos (Impairment) foi introduzida pela Lei 11.638/07 que através da CPC 01 define a metodologia a ser aplicada para verificar se a companhia possui ativos que estejam contabilizados por um valor que possam ser recuperados por uso ou por venda.

O objetivo do teste de impairment é verificar se há na empresa ativos desvalorizados, considerando que um ativo está desvalorizado quando seu valor contábil excede seu valor recuperável. Como definição, valor recuperável é o maior valor entre o valor líquido de venda e o valor em uso.

IMPACTOS DO COVID19 NO TESTE DE IMPAIRMENT

Até o início de março/20, podemos dizer que de forma genérica, o cenário para a maioria das empresas brasileiras era de uma visão de futuro bastante positiva, com expectativa de crescimento da economia e de expansão, aumento das receitas e do lucro.

Em pouco mais de 15 dias esse cenário mudou completamente e agora estamos diante de uma provável crise econômica nunca antes vista na história brasileira e de amplitude mundial.

Nesse momento, é fato incontestável, que muitas empresas (não todas, mas a maioria) irão sofrer muito com a crise, vendo suas receitas despencarem nos próximos meses à níveis inimagináveis no início do ano.

Dentro desse contexto, o teste de recuperabilidade é um instrumento que trará grande impacto nas demonstrações contábeis das empresas que forem atingidas economicamente pela crise. Mais especificamente sobre o Ativo Imobilizado que é o nossa especialidade, todas as empresas que realizaram o teste de recuperabilidade utilizando-se da metodologia do valor em uso, terão que refazer suas projeções, pois na metodologia do valor em uso, calculamos o valor recuperável trazendo a valor presente a projeção de fluxos de caixas futuros esperados do próprio ativo ou da unidade geradora de caixa.

Isto é, uma vez que a nova expectativa de fluxos de caixa futuros será bem menor de quando realizada a avaliação, a tendência natural é que refazendo o teste, o valor recuperável seja muito inferior ao valor contábil, tendo nesse caso a empresa obrigada a constituir uma provisão de perda por desvalorização.

Vale lembrar que o teste de recuperabilidade não deve ser aplicado somente sobre o ativo imobilizado, mas sim para vários outros grupos de ativos, e em alguns casos realmente não haverá outra solução a não ser constituir a provisão para perda.

A SOLUÇÃO PARA O ATIVO IMOBILIZADO

Se voltarmos para a teoria, estudando a norma, veremos que existem 2 métodos para a realização do teste de impairment: a metodologia do valor em uso (fluxo de caixa) já citada e a metodologia do valor justo líquido de despesa de venda. É possível realizar o teste de recuperabilidade pelas duas metodologias e determinando o valor recuperável do ativo pelo maior valor entre os dois métodos.

Para outros ativos do balanço, como por exemplo, ativos financeiros realizar o teste de recuperabilidade pela metodologia do valor justo líquido de despesas de vendas não faz sentido ou é impraticável, mas para o Ativo Imobilizado é uma metodologia extremamente aplicável e é inclusive a que mais utilizamos na Afixcode nos nossos trabalhos de teste de recuperabilidade.

Portanto se realizarmos o teste de Impairment utilizando a metodologia do valor justo líquido de venda, a expectativa é obtermos um resultado muito melhor do que utilizando a metodologia do valor em uso, pois o preço dos ativos, na maioria dos casos, não se desvalorizou na mesma proporção que a projeção de fluxo de caixa futuro. Dando um exemplo bem simples de fácil entendimento, o preço de um veículo hoje é ainda é bem semelhante ao preço de 1 mês atrás.

CONCLUSÃO

As empresas que realizaram o teste de recuperabilidade sobre o Imobilizado utilizando a metodologia do valor em uso, se afetadas economicamente pela crise, deverão obrigatoriamente refazer o teste de impairment uma vez que as projeções econômicas atuais são bem diferentes.

Para essas empresas, na nossa opinião, a melhor solução sem dúvida é refazer o teste de impairment mas utilizando a metodologia do valor justo líquido de venda, pois como explicado no artigo, o impacto (se houver) será muito menor do que utilizando a metodologia do valor em uso.

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